quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sal, luz e cruz


Acho curioso como nosso Deus faz questão de nos envolver em seus desígnios aqui na terra, mesmo sabendo de nossa incapacidade. Penso que Deus quer mesmo é se utilizar de nossas fraquezas para realizar o bem nesse mundo, pois somente nesses momentos é que deixamos Ele agir. Deus faz questão de trabalhar com os fracos, os falidos e os menos importantes justamente para confundir os fortes.

Jesus diz, nos versos 13 e 14 do capítulo 5 de Mateus, que somos o sal da terra e a luz do mundo. Perceba que, atualmente, esses dois elementos (sal e luz) são tão comuns em nosso dia-a-dia que nem os notamos. Sentimos suas faltas, por exemplo, quando por descuido de alguém, o arroz fica sem sal ou quando a companhia de energia não evita um blecaute.

Para quem vive nas grandes metrópoles, a luz e o sal, deixaram de ser algo de destaque. Penso que o mesmo ocorreu com o sabor que deveríamos dar para toda a terra e com as nossas obras que deveriam iluminar o mundo.

As instituições cristãs passaram a ser lugar de irrelevância, de superficialidades e se tornaram, na melhor das hipóteses, casas de show. A emoção dita a unção. As curas teatrais, as vitórias financeiras e as chuvas de bênçãos são as coisas que importam.

O sal foi jogado fora, perdeu o sabor e agora está sendo pisado por homens de terno ou batina, interessados tão-somente no lucro. A luz está debaixo da vasilha e as pessoas sendo guiadas por caminhos escuros e mal-iluminados.

Felizmente, o que Jesus disse não perdeu o seu valor. Apesar das dificuldades, podemos ver os verdadeiros servos sendo sal e luz. Mas como tudo parece ser sal e tudo parece ser luz nem notamos a diferença. No entanto, eles estão por aí.

Na maioria do tempo sou sem sabor e sem obras. Parte disso se deve a minha resistência em confiar que Deus está no controle. Tenho medo de sofrer, de ter que carregar a minha cruz.

O cristianismo que percebo nos evangelhos não tem nada do triunfalismo pregado pelos evangélicos, muito menos está relacionado com o “pseudo-pietismo” do catolicismo. Vejo que, aquele que serve a Cristo inevitavelmente sofrerá, pois Jesus disse que teríamos muitas aflições. A proposta de Jesus é que não seríamos poupados das intempéries da vida, das desilusões, das angustias, da morte e da dor. Entretanto, ele também disse que, mesmo em meio a tudo isso, seríamos felizes, teríamos sabor, iluminaríamos vidas.

Creio que só podemos ser fonte de sabor para vidas desgostosas e tristes, se de algum modo passarmos pelos mesmos dissabores, pelas mesmas tristezas. Quem conhece alguém que tenha problemas com drogas, sabe que é quase impossível uma pessoa que nunca tenha vencido esse problema, ou seja, que também tenha sido um viciado e depois se recuperado, possa aconselhar alguém e obter bons resultados, por exemplo.

Da mesma forma com relação às obras. Uma obra só é realizada se houver uma necessidade ou um problema. Como então, poderemos realizar boas obras se não nos envolvemos nem nos nossos próprios problemas. Na maioria das vezes, fugimos de nossos problemas. Queremos que Jesus os tire de nossa frente o quanto antes, nem estamos dispostos a participar da solução, queremos que o problema suma magicamente.

Talvez seja por isso que Deus faça tanta questão de participarmos de sua obra. Ele quer se utilizar de nossa experiência de vida para influenciar a outros. Penso que, para sermos tudo o que Jesus disse que seríamos, temos que carregar a nossa cruz. Sem a cruz não somos de Cristo, somos qualquer outra coisa, menos verdadeiros seguidores de Jesus.

Precisamos encarar nossas dificuldades de forma mais corajosa, crendo que Jesus estará ao nosso lado, nos ajudando a resolver. Fingir que a depressão, o vício de um familiar, o consumismo, o mendigo, a doença não existem, não resolve o problema, muito menos achar que Jesus vai solucionar magicamente todos eles. Deus quer que nos aperfeiçoemos na dor, no cadinho da humilhação, pois Ele não quer bebês-chorões convivendo para sempre ao seu lado. Sofrer é inerente ao ser humano, sofrer é inerente ao cristão. Perceba que não estou fazendo apologia ao sofrimento, ou seja, que você deva buscar o sofrimento, não é isso. Estou dizendo que devemos aceitar o sofrimento de forma madura e adulta e não como crianças melindradas.

Nossa peregrinação nesse mundo tem, como uma de suas principais funções, a nossa lapidação enquanto seres humanos, por meio de caminhos e descaminhos, verões e invernos, alegrias e tristezas, vida e morte. Ser cristão é ser humano.

Enfim, seremos o sal da terra e a luz do mundo quando aceitarmos que temos que carregar nossas cruzes e aprendermos o significado do que é chorar com os que choram e rir com os que riem.

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