sexta-feira, 14 de agosto de 2009

As construções humanas e a divina desconstrução

Assistimos, hoje, à bagatelização de um movimento que já foi caro: o evangelicalismo. Ser evangélico, hoje, é ser confundido com o fundamentalismo religioso que legitimou a barbárie norte-americana no Iraque. Ser evangélico, hoje, é ser associado ao enriquecimento com o uso da religião. Ser evangélico, hoje, é participar do que há de mais sofisticado no mercadejamento da fé.

O evangelicalismo brasileiro tem mais a marca de politiqueiros inescrupulosos que de santos e devotos. A cor e o som do movimento evangélico são tão artificiais quanto o que transmitem os comunicadores da televisão, cheios de cacoetes ensaiados e jargões vazios. No meio de tudo isso há um remanescente. Há "sete mil que não dobraram os joelhos" [1Rs 19.18]. Porém nem estes nem o passado heróico do evangelicalismo justificam insistência alguma com um movimento que precisa morrer.

A pulverização dos ideais cristãos no movimento evangélicopode ser uma nova kenosis (se esvaziar) de Deus. Quem sabe Deus não esteja babelizando nossa construção evangélica para nos livrar da perpetuação do mal? Quem sabe essa confusão evangélica, em que não mais conseguimos nos identificar, não seja o esvaziamento que nos devolverá ao caminho do amor?

Precisamos renovar nosso olhar para o Cristo de Deus, prestar atenção no despojamento divino em fazer-se gente e acolher a morte redentora. Se Deus se esvaziou sendo Deus, como recusar o esvaziamento de nossas instituições, pretensas divindades? Se quem é escolheu deixar de ser, nós que não somos que outra opção mais legítima podemos ter?

(Trecho do livro Salvos da Perfeição de Elienai Cabral Jr., pág. 156)

sábado, 8 de agosto de 2009

Proposta indecente

A proposta de Jesus de Nazaré para seus seguidores é, no mínimo, indecente. Ele propõe uma subversão dos valores vigentes no cristianismo de nosso tempo, bem como o fez para aqueles de sua época. Enquanto a maioria de nós vive disputando por um lugar de honra, a exemplo dos filhos de Zebedeu, Jesus, apesar de nossa cabeça dura, continua insistindo na proposta original: “quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” [Mt 20.26-28].

Acredito que o Nazareno queria que entendêssemos que ao colocarmos nossos dons a serviço dos outros, ele mesmo cuidaria de nós. No entanto, mesmo olhando as coisas por esse ângulo, tempos uma enorme dificuldade de encarar isso, simplesmente pelo fato de que fomos condicionados a vida toda a pensar apenas em nós mesmos. Nem nos bancos das igrejas somos incentivados a olhar o outro com os olhos misericordiosos de Jesus. Temos dificuldades até de defender os interesses daquele que dizemos ser o nosso mestre, como Paulo nos lembra em sua carta aos Filipenses 2.21: “pois todos buscam seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo”, imagine então, buscar o interesse de um reles mortal?

Jesus de Nazaré veio para servir e espera que aprendamos isso. Ele quer que “cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” [Fl 2.4]. A expectativa do Deus Altíssimo é que olhemos o sofrimento ao nosso redor, que saiamos do nosso mundinho-de-faz-de-conta do Jesus curandeiro e banqueiro. Ele não está dizendo que não devamos ter alguns sonhos e desejos, ele quer que desenvolvamos relacionamentos com as pessoas para além da superficialidade trivial dos orkuts da vida.

O sonho de Deus para nós era que fossemos uma comunidade de amor, de misericórdia, de perdão, que “ninguém buscasse o seu próprio bem, mas sim o dos outros” [1Co 10.24], onde cada necessitado pudesse ser envolvido de carinho e afeto, onde suas feridas fossem saradas, onde sua fome e sede fossem saciadas, onde não houvesse desigualdades [At 10.34]. Mas, parece-me que não importa o que Deus quer, utilizamos a sua própria Palavra em nosso favor, exigindo e requerendo diretos inexistentes em prol do nosso bel prazer.

A proposta de Jesus parece absurda e impossível de ser praticada em uma sociedade tão consumista e imediatista como a nossa, mas apesar de nossos protestos, ele continuará insistindo, pois não veio para nos agradar, veio colocar vinho novo em odres novos [Mt 9.17]. Precisamos enxergar que para ser sal e luz no mundo, requer que nos tornemos servos e escravos uns dos outros, requer que tenhamos a coragem de Paulo e bradamos em alta voz: “Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando o lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados de Deus” [2Co 2.17].

sábado, 1 de agosto de 2009

O Labo B do cristianismo

Antigamente as pessoas ouviam suas músicas em discos de vinil, os famigerados LP's. Esses discos possuíam dois lados: o A reservado geralmente para os sucessos e o B para aquelas músicas menos promissoras. Atualmente, percebo claramente, que estamos fazendo a mesma coisa com algumas relíquias fundamentais da vida cristã.

Os púlpitos estão recheados de jargões da prosperidade (me perdoem, mas não consigo parar de falar mal dessa heresia). Eu já presenciei várias dessas frases celebres, cito abaixo alguns delas:

- O cristão nasceu para ser cabeça e não cauda! - Fico imaginando o que Jesus não sofre ao ouvir os pseudo-cristãos falando coisas desse tipo, sendo que ele cansou de falar que aqueles que quisessem ser alguma coisa no reino dos céus deveriam ser o servo, o último, pois ele mesmo não veio para ser servido, mas para servir;

- Toma posse da benção! - Essa sempre está ligada a retornos financeiros por parte de Deus. Mas se observarmos bem, somente o pastores, bispos, apóstolos é que verdadeiramente tomam po$$e de$$a benção.

- Eu determino... - Essa é uma das piores, o cabra se acha patrão de Deus e fica mandando que o todo-poderoso faça suas vontades...Deus me dê paciência! Não é a toa que tanta gente tem deixado a igreja!!

Esses jargões tem um fundamento promíscuo e mesmo assim tem dominado muitos cultos (não só em igrejas neopentecostais) e o que importa realmente está sendo deixado de lado.

Coisas como carregar a sua cruz, colocar o próximo em primeiro lugar, renovação de nossa mente, santificação, auxílio aos pobres, dentre outras coisas, cada vez menos são ouvidas em nossos cultos e conversas.

Outro dia li em um artigo que a maioria das pregações realizadas em nossos tempos, falam a respeito do Velho Testamento (isso deve ser verdade, basta olhar as letras das músicas), deixando de lado o Novo Testamento e, consequentemente, as coisas que Jesus explicou, ou seja, é o cristianismo sem Cristo que está na moda! Penso que, em pouquíssimo tempo, muitos se esquecerão quem foi Jesus e mesmo assim se auto-intitularão cristãos (hehe).

Graças a Deus, ainda existem muitos heróis lutando para manter o Lado B rodando e é por essa trilha que quero seguir, custe o que custar, pois acredito que essa é a vontade de Dele para nós.

Convoco todos a fazermos uma reforma protestante em prol de começarmos a (re)utilizar o Lado B do cristianismo!