terça-feira, 20 de julho de 2010

Proibido pessoas perfeitas


Gosto muito do slogam da Vineyard Capital que diz: “proibido pessoas perfeitas”, pois, em minha opinião, reflete exatamente a proposta original de Jesus para sua igreja. No entanto, sabemos que não é a realidade na maioria das igrejas e creio que nem mesmo na Vineyard. Quando me refiro a pessoas perfeitas não estou pensando apenas em pessoas santas, corretíssimas, cumpridoras das leis, etc. Estou pensando também no aspecto físico e biológico das pessoas, ou seja, estou falando das pessoas portadoras de deficiência (PPDs).

Outro dia, voltando do trabalho para casa, tive a oportunidade de vislumbrar três crianças surdas-mudas batendo o maior papo no metrô. Era uma confusão de gestos e carinhas felizes e descontraídas, como não poderia deixar de ser. Fiquei imaginando a “barulheira” que estavam fazendo e isso me levou a refletir sobre a presença dos PPDs em nossas igrejas.

Segundo dados do Censo Demográfico de 2000, que em breve será atualizado, cerca de 14,5% da população brasileira são PPDs, que significa 24,5 milhões de pessoas. Em São Paulo, que é um dos cinco estados que possuem as menores taxas de pessoas com deficiência, esse índice é de 11,35%. Nosso estado possui cerca de 40 milhões de pessoas e a capital cerca de 11 milhões, se aplicarmos esse índice em nosso estado teremos algo em torno de 4,5 milhões e na capital 1,25 milhão de PPDs.

Diante desses números, questiono: será que em nossas igrejas existe essa mesma proporção? Infelizmente creio que não. Só para termos uma idéia, na IBG, que segundo fontes informais possui cerca de 400 pessoas, teríamos que ter no rol de membros cerca de 45 pessoas com deficiência!

Jesus, em seu tempo, vivia no meio de PPDs, tanto é verdade que boa parte de seus milagres estão relacionados a essas pessoas. Então, por que hoje em dia temos tanta dificuldade de atrair essas pessoas ou pelo menos estar próximas a elas? Será que o governo terá que fazer uma lei semelhante à que foi imposta às empresas para as denominações cristãs, de modo que tenhamos essa proporcionalidade?

Por que será que existem tão poucos (se é que existem) pastores, apóstolos, bispos, patriarcas (esse é o novo título da moda gospel) e ministros de música PPDs?

Será que o problema está na acessibilidade de nossas igrejas? Ou quem sabe na falta de veículos para transporte dessas pessoas? Ou será a falta de servos capacitados para atendê-los?

Será que a igreja não acredita na salvação dos PPDs? Ou será que o pensamento vigente é que o alto custo de se investir nessas almas não vale a pena, pois possui um baixo retorno($)?

Penso que nós, “pessoas ditas normais”, dificultamos a entrada de gentes que não possuam o nosso padrão de aparência, perfeição etc. Temos dificuldade de aceitar o diferente, o não ortodoxo. Por exemplo, basta que entre em nosso culto alguém com algumas tatuagens para que se comente algo veladamente.

Na maioria das vezes, em decorrência desse nosso modo de viver o evangelho, acabamos afastando muitas pessoas de nossas comunidades. Certa vez, ao convidar uma pessoa para ir à igreja, tive que responder à pergunta: “eu posso ir de camisa vermelha?”. Imagine você se essa mesma pessoa vive cometendo aqueles “pecadões”, ela deve se achar a pessoa mais indigna de freqüentar o lugar dos certinhos. Conheço pessoas que acreditam piamente que para ir para a igreja a pessoa deve ser perfeita, santa e irrepreensível! E sempre que me defronto com pessoas que pensam assim, enfatizo (e até exagero mesmo) que a igreja é o lugar dos “ex-alguma-coisa”, de gente podre, mentirosa, pecadora, briguenta etc. Falo que a única coisa que nos diferencia é que cremos num Deus perfeito, que nos salvou de uma vez por todas e que é capaz de nos ajudar em nossa imperfeição.

Para concluir, acredito que os PPDs e outras minorias não freqüentam nossas igrejas em decorrência de nossa inabilidade de enxergá-los e amá-los, ao contrário do exemplo de Jesus. Simplesmente estamos refletindo o descaso milenar que as sociedades “civilizadas” sempre fizeram às pessoas portadoras de deficiência.

Sonho com o dia em que toda e qualquer igreja cristã tenha como um de seus valores a proibição de pessoas perfeitas e, quem sabe, um dia possamos ver e ouvir um pastor sentado em sua cadeira de rodas pregando sobre a cura do paralítico, sem constrangimento ou pudor.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fazer o bem


Assim que conclui a leitura das cartas de Paulo aos tessaonicenses, uma questão se levantou para mim: eu tenho feito o bem? Em três momentos dessas epístolas Paulo insiste com os tessalonicenses para que façam o bem: “Tenham cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas sejam sempre bondosos uns para com os outros e para com todos” [1 Ts 5.15]; Que o próprio Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai (...) dêem ânimo ao coração de vocês e os fortaleçam para fazerem sempre o bem, tanto em atos como em palavras” [2 Ts 2.16-17]; “Quanto a vocês, irmãos, nunca se cansem de fazer o bem” [2 Ts 3.13].

Em seguida a esse questionamento me veio outro: mas, afinal o que será fazer o bem? Diante desses versículos e com uma visão global dessas cartas, só tenho uma definição plausível a respeito do que possa ser “fazer o bem”, ou seja, é uma palavra ou um ato que de alguma forma beneficie uma outra pessoa, sem que com isso, Deus seja ultrajado. Portanto, fazer o bem significa atender a necessidade de uma pessoa sem que se ofenda a Deus.

Voltando à questão inicial, penso que muitas vezes tenho feito o contrário, isto é, ao invés de ser bondoso para com todos, de fazer sempre o bem e de não se cansar de fazer o bem, me vejo retribuindo o mal com o mal a alguém que me chateou (nem que seja em sonho, quando tenho superpoderes a lá Superman) ou quem sabe quando sempre desisto de fazer o bem ou ainda quando me canso de ser bonzinho e viro mauzinho.

Como o diabo que se utilizou da Bíblia para tentar Jesus no deserto, sou tentado pelo espírito farizaico-cristão que vive a me rondar e a me ungir, dizendo: “mas até mesmo Paulo disse que as coisas boas que gostaria de fazer não fazia e as más, que não queria, quando via já estava fazendo...” entre outras pérolas vão surgindo em minha mente como desculpas esfarrapadas, e com poderes paralisantes sobre minha vida. Assim, constantemente me vejo deixando de fazer o bem, mesmo podendo fazê-lo.

É fato que muitas vezes queremos fazer o bem, e sem perceber acabamos fazendo tudo errado, mas em hipótese alguma podemos desistir de fazer o bem, quer por predisposição humana ou sem-vergonhice! Paulo nos ensina que devemos ter cuidado em nosso falar e agir, de maneira que sempre façamos o bem. Assim como ele intercedeu pelos tessalonicenses para que o Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai dessem ânimo a eles, também devemos orar uns pelos outros para que Deus também nos dê ânimo para continuarmos a fazer o bem. Temos que ter em mente que ser cristão é fazer o bem, pois é inerente a essa nova criatura, não podemos nos cansar de ser bondosos.

Com o passar dos anos tenho aprendido que para ser uma pessoa melhor ou bondosa, precisamos nos destituir de nosso egoísmo, de nossa auto-suficiência e ter empatia pelas pessoas que nos cercam. O grande inimigo que teremos que enfrentar para nos tornarmos pessoas que fazem o bem é aquele que vemos todos os dias diante do espelho. E só existe uma maneira de vencermos esse grande inimigo: deixando Jesus assumir o controle.

Quando deixamos Jesus assumir o controle não nos tornamos autômatos, ao contrário, temos uma participação extremamente ativa, nos tornamos um com Ele e começamos a dar frutos provenientes dele, mas que se concretizam por meio de nossa instrumentalidade. Precisamos entender que, sem Jesus, nada podemos fazer [Jo 15.4]. Nossos frutos somente serão verdadeiros se estivermos ligados à Árvore da Vida, e não existem atalhos ou caminhos mais fáceis. Todo e qualquer esforço humano resulta em frustração, desânimo, apatia e dor. Portanto, não se deixe enganar, apenas com Jesus conseguiremos fazer o bem, pois de outra forma estaremos apenas inflando nosso ego e correndo o risco de se decepcionar grandemente com a humanidade.

Como Paulo, prefiro encarar nossa humanidade como capaz de fazer o bem incansavelmente, mesmo diante de lutas, sofrimentos e tristezas. Prefiro olhar o copo meio cheio e crer que Deus é poderoso para transformar minha humanidade desvirtuada naquilo que nasci para ser. Fui constituído para ser imagem e semelhança de Deus e é assim que quero ser, custe o que custar.