Sem percebermos, a vida moderna nos consome. Vamos nos desgastando com o trânsito caótico e seus sons de buzinas, sirenes de ambulâncias e dos carros de policiais. No metrô superlotado, com calor sufocante e o empurra-empurra. No trabalho, com a constante cobrança, a busca por metas e objetivos infindáveis. Na igreja, com a cobrança pelo cumprimento das leis (algumas de Deus e muitas dos homens), como se isso fosse o sinônimo de santidade e pureza. Na escola ou na faculdade, com as aulas desinteressantes, muitas vezes dadas por professores desinteressados. E, em muitas famílias, com a briga constante pela prevalência da individualidade em detrimento do grupo.
O tempo vai passando, vamos nos acostumando com a vida agitada, a agenda lotada, o ritmo acelerado. O estresse torna-se um mal necessário. A ambição se sobrepõe a tudo e a todos. O importante é ter o que ainda não se tem. Os dias vão passando tão rápido que não temos mais tempo para a família, para os amigos e principalmente para o ócio. Não nos assustamos mais com a miséria e a pobreza, com os viciados e os violentos. A guerra tornou-se algo banal, a corrupção normal, afinal de contas quem não baixa uma música ou filme da internet? É tão fácil, de graça, o que importa se é um ato ilegal e corruptamente impune?
Todas essas coisas, paulatinamente, estão nos levando a um movimento constante que a cada passo nos leva para longe da fonte de águas vivas. Quanto mais vivemos nessa roda viva , mais a queremos e isso vai causando em nós uma sede que não entendemos. Vivemos constantemente angustiados e na melhor das hipóteses, alienados. Apesar de estarmos a cada domingo sentados nos bancos das igrejas, mais e mais sentimos sede. Teologias são criadas para nos garantir que estamos no caminho certo, são tão ludibriosas que nem percebemos o seu veneno, a sua água turva e podre.
Entretanto, alguns de nós percebem o erro que estamos cometendo, não por serem mais iluminados ou por que são merecedores de um troféu, simplesmente por conta da sede insistente que corta a garganta como que com o fio de uma navalha... esses fazem coro com os filhos de Corá e dizem:
“Como a corsa anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?” [Sl 42.1-2]
Precisamos beber da água verdadeira e nos saciar com o que realmente importa. Precisamos abandonar o vício da água torpe e nos embebedar da água viva, viver cambaleando alegremente na certeza inebriante do Deus que nos ama, nos perdoa e nos nutre.
Precisamos nos lembrar que, em Cristo, somos filhos da liberdade! [Gl 4.31] E, sendo livres não necessitamos mais permanecer subjugados à Lei (seja ela eclesiástica, midiática, do pecado, seja qual for!). Precisamos tomar coragem e dar um salto em nossos paradigmas. Precisamos renovar as nossas mentes [Rm 12.2] e olhar para essas coisas e dizer: “por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e meu Deus!” [Sl 42.11]
É necessário conhecermos o dom de Deus e pedirmos da água viva que Jesus nos oferece com a garantia de que quem beber da água que ele dá, nunca mais terá sede [Jo 4.14]. O problema é que não estamos bebendo água diretamente da fonte, estamos sempre nos saciando com a água do balde, ou seja, água contaminada e suja, por isso nossa sede não passa, nossa alma não se aquieta e sempre precisamos de mais águas turvas...
Senhor, só te peço uma coisa: sacie nossa sede!