sábado, 8 de agosto de 2009

Proposta indecente

A proposta de Jesus de Nazaré para seus seguidores é, no mínimo, indecente. Ele propõe uma subversão dos valores vigentes no cristianismo de nosso tempo, bem como o fez para aqueles de sua época. Enquanto a maioria de nós vive disputando por um lugar de honra, a exemplo dos filhos de Zebedeu, Jesus, apesar de nossa cabeça dura, continua insistindo na proposta original: “quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” [Mt 20.26-28].

Acredito que o Nazareno queria que entendêssemos que ao colocarmos nossos dons a serviço dos outros, ele mesmo cuidaria de nós. No entanto, mesmo olhando as coisas por esse ângulo, tempos uma enorme dificuldade de encarar isso, simplesmente pelo fato de que fomos condicionados a vida toda a pensar apenas em nós mesmos. Nem nos bancos das igrejas somos incentivados a olhar o outro com os olhos misericordiosos de Jesus. Temos dificuldades até de defender os interesses daquele que dizemos ser o nosso mestre, como Paulo nos lembra em sua carta aos Filipenses 2.21: “pois todos buscam seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo”, imagine então, buscar o interesse de um reles mortal?

Jesus de Nazaré veio para servir e espera que aprendamos isso. Ele quer que “cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” [Fl 2.4]. A expectativa do Deus Altíssimo é que olhemos o sofrimento ao nosso redor, que saiamos do nosso mundinho-de-faz-de-conta do Jesus curandeiro e banqueiro. Ele não está dizendo que não devamos ter alguns sonhos e desejos, ele quer que desenvolvamos relacionamentos com as pessoas para além da superficialidade trivial dos orkuts da vida.

O sonho de Deus para nós era que fossemos uma comunidade de amor, de misericórdia, de perdão, que “ninguém buscasse o seu próprio bem, mas sim o dos outros” [1Co 10.24], onde cada necessitado pudesse ser envolvido de carinho e afeto, onde suas feridas fossem saradas, onde sua fome e sede fossem saciadas, onde não houvesse desigualdades [At 10.34]. Mas, parece-me que não importa o que Deus quer, utilizamos a sua própria Palavra em nosso favor, exigindo e requerendo diretos inexistentes em prol do nosso bel prazer.

A proposta de Jesus parece absurda e impossível de ser praticada em uma sociedade tão consumista e imediatista como a nossa, mas apesar de nossos protestos, ele continuará insistindo, pois não veio para nos agradar, veio colocar vinho novo em odres novos [Mt 9.17]. Precisamos enxergar que para ser sal e luz no mundo, requer que nos tornemos servos e escravos uns dos outros, requer que tenhamos a coragem de Paulo e bradamos em alta voz: “Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando o lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados de Deus” [2Co 2.17].

Um comentário:

  1. Com certeza um ótimo artigo para se analisar a maneira como encaramos o evangelho hoje. Jesus não veio para os super-crentes, nem para os capacitados... Mas para servir os exauridos, os maltrapilhos... e sua proposta é a de seguirmos seus passos... Mas alguns só querem o poder, querem o reino, querem determinar, querem status, glamour.... servir como Ele o fez...

    Marcos, seus artigos têm me ajudado a moldar aquilo que desejo assumir como um cristianismo autêntico na minha vida... Parabéns e obrigado!

    Anderson Siqueira

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