Gosto muito do slogam da Vineyard Capital que diz: “proibido pessoas perfeitas”, pois, em minha opinião, reflete exatamente a proposta original de Jesus para sua igreja. No entanto, sabemos que não é a realidade na maioria das igrejas e creio que nem mesmo na Vineyard. Quando me refiro a pessoas perfeitas não estou pensando apenas em pessoas santas, corretíssimas, cumpridoras das leis, etc. Estou pensando também no aspecto físico e biológico das pessoas, ou seja, estou falando das pessoas portadoras de deficiência (PPDs).
Outro dia, voltando do trabalho para casa, tive a oportunidade de vislumbrar três crianças surdas-mudas batendo o maior papo no metrô. Era uma confusão de gestos e carinhas felizes e descontraídas, como não poderia deixar de ser. Fiquei imaginando a “barulheira” que estavam fazendo e isso me levou a refletir sobre a presença dos PPDs em nossas igrejas.
Segundo dados do Censo Demográfico de 2000, que em breve será atualizado, cerca de 14,5% da população brasileira são PPDs, que significa 24,5 milhões de pessoas. Em São Paulo, que é um dos cinco estados que possuem as menores taxas de pessoas com deficiência, esse índice é de 11,35%. Nosso estado possui cerca de 40 milhões de pessoas e a capital cerca de 11 milhões, se aplicarmos esse índice em nosso estado teremos algo em torno de 4,5 milhões e na capital 1,25 milhão de PPDs.
Diante desses números, questiono: será que em nossas igrejas existe essa mesma proporção? Infelizmente creio que não. Só para termos uma idéia, na IBG, que segundo fontes informais possui cerca de 400 pessoas, teríamos que ter no rol de membros cerca de 45 pessoas com deficiência!
Jesus, em seu tempo, vivia no meio de PPDs, tanto é verdade que boa parte de seus milagres estão relacionados a essas pessoas. Então, por que hoje em dia temos tanta dificuldade de atrair essas pessoas ou pelo menos estar próximas a elas? Será que o governo terá que fazer uma lei semelhante à que foi imposta às empresas para as denominações cristãs, de modo que tenhamos essa proporcionalidade?
Por que será que existem tão poucos (se é que existem) pastores, apóstolos, bispos, patriarcas (esse é o novo título da moda gospel) e ministros de música PPDs?
Será que o problema está na acessibilidade de nossas igrejas? Ou quem sabe na falta de veículos para transporte dessas pessoas? Ou será a falta de servos capacitados para atendê-los?
Será que a igreja não acredita na salvação dos PPDs? Ou será que o pensamento vigente é que o alto custo de se investir nessas almas não vale a pena, pois possui um baixo retorno($)?
Penso que nós, “pessoas ditas normais”, dificultamos a entrada de gentes que não possuam o nosso padrão de aparência, perfeição etc. Temos dificuldade de aceitar o diferente, o não ortodoxo. Por exemplo, basta que entre em nosso culto alguém com algumas tatuagens para que se comente algo veladamente.
Na maioria das vezes, em decorrência desse nosso modo de viver o evangelho, acabamos afastando muitas pessoas de nossas comunidades. Certa vez, ao convidar uma pessoa para ir à igreja, tive que responder à pergunta: “eu posso ir de camisa vermelha?”. Imagine você se essa mesma pessoa vive cometendo aqueles “pecadões”, ela deve se achar a pessoa mais indigna de freqüentar o lugar dos certinhos. Conheço pessoas que acreditam piamente que para ir para a igreja a pessoa deve ser perfeita, santa e irrepreensível! E sempre que me defronto com pessoas que pensam assim, enfatizo (e até exagero mesmo) que a igreja é o lugar dos “ex-alguma-coisa”, de gente podre, mentirosa, pecadora, briguenta etc. Falo que a única coisa que nos diferencia é que cremos num Deus perfeito, que nos salvou de uma vez por todas e que é capaz de nos ajudar em nossa imperfeição.
Para concluir, acredito que os PPDs e outras minorias não freqüentam nossas igrejas em decorrência de nossa inabilidade de enxergá-los e amá-los, ao contrário do exemplo de Jesus. Simplesmente estamos refletindo o descaso milenar que as sociedades “civilizadas” sempre fizeram às pessoas portadoras de deficiência.
Sonho com o dia em que toda e qualquer igreja cristã tenha como um de seus valores a proibição de pessoas perfeitas e, quem sabe, um dia possamos ver e ouvir um pastor sentado em sua cadeira de rodas pregando sobre a cura do paralítico, sem constrangimento ou pudor.
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